Os Dez Dias de Retorno

Os dez dias entre Rosh Hashaná e Iom Kipur são conhecidos como os "Dez Dias de Retorno" ou " Os Dez Dias de Penitência(Arrependimento)". Estes dias, que são considerados pelos nossos Sábios como os mais favoráveis ante D´us, transcorrem em meio às preces e a uma crescente devoção, além de um honesto e profundo exame de nós mesmos, mancomunados em um esforço por escrever uma nova página no Livro da Vida. Na verdade, poderia haver uma maneira mais sublime de celebrar o começo do ano do que dedicando estes primeiros dias à realização de um "inventário" do nosso ativo e passivo espiritual?

Teshuvá, que quer dizer ao mesmo tempo arrependimento e retorno a D`us, não é um assunto simples. Necessita e exige uma investigação de nossa conduta e do nosso procedimento. A propósito, há uma bela parábola no Midrash que ilustra claramente a filosofia de vida do Judaísmo:

"Perguntaram à Sabedoria: qual é o castigo para o pecador? e ela respondeu: O demônio perseguirá os pecadores.

Perguntaram à Profecia e ela respondeu: A alma que peca morrerá.

Perguntaram à Torá e ela respondeu: Que traga um sacrifício e conseguirá a expiação.

Perguntaram ao Todo-Poderoso e Ele respondeu: Que se arrependa!"

Esta é a lição que nos ensina esta passagem: o arrependimento pode chegar unicamente depois de um auto-exame e uma auto-inquisição, depois de o homem ter feito a si mesmo a pergunta "qual é o castigo que espera o pecador?" Só depois de haver ouvido a resposta da Sabedoria e da Profecia e começado a imaginar que forma pode tomar tal castigo é que terá consciência da resposta do Todo-Poderoso.

"Volta(arrepende-te), ó Israel, ao Eterno, teu D`us, pois caíste pela tua iniquidade"(Oséias, cap. 14 vers. 2)

Os fundamentos da Teshuvá sincera são três: abandono do caminho errado, um arrependimento sincero pelo pecado cometido, e também uma oração pela expiação deste pecado.

Estes Dez Dias receberam uma ênfase adicional nos ensinamentos rabínicos, que consideram este período como um tempo de juízo para cada indivíduo. Um exemplo é esta passagem do Talmud:

"Disse Rabi Cruspedai em nome de Rabi Iochanan: Três livros são abertos(no Céu) no ano novo: um para o pecador empedernido, cujas más ações ultrapassam terminantemente as boas ações; outro, para o que é acabadamente justo; e o terceiro, para o medíocre.

O justo é inscrito imediatamente no Livro da Vida, o pecador irreversivelmente o é para o Livro dos Condenados, enquanto que a sentença para os medíocres fica suspensa desde Rosh Hashaná até Iom Kipur; se merecer o favor, são inscritos no Livro da Vida, do contrário, são condenados."

Os Dez Dias de Penitência, outorgam a todos a oportunidade de buscar o perdão e obter a expiação. Ajudam a todos os judeus a se purificarem através do pensamento nobre e ação valiosa.

É um período de confraternização, no qual podemos viver moral e espiritualmente em um plano superior. Na verdade, nossos Sábios atribuíram um valor tão grande à penitência(Teshuvá), que declararam que, mesmo o justo mais perfeito, não pode alcançar "o lugar que ocupa o penitente(baal-teshuvá)".

Em outras palavras, de acordo com o pensamento judaico, o verdadeiro penitente alcança o mais alto grau de pureza na vida.